Gilberto Yamamoto/Ilustração
Modalidades alternativas de acesso ao ensino superior transformam a cultura estudantil no Brasil e o aproximam de sistemas adotados em outros países

Desde 2004, uma série de medidas do governo federal tem mudado a forma como os estudantes chegam ao ensino superior no Brasil. O país do vestibular assiste, ano após ano, a números cada vez maiores de jovens que entram na universidade por meios alternativos aos exames de seleção preparados pelas próprias instituições. O que analistas preveem é que não vai demorar para que esses meios deixem de ser alternativos e se tornem o padrão, dando uma nova cara ao ensino superior brasileiro.

A extinção do vestibular já foi explicitamente anunciada como meta pelo ex­ministro da Educação Fernando Haddad e, apesar da relevância que o teste ainda tem em muitas cidades, a adesão gradativa de instituições públicas tradicionais ao Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e ao Sistema Único de Seleção (Sisu) já transformou a cultura estudantil.

No Rio de Janeiro, por exemplo, a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e a Universidade Federal Fluminense (UFF) – duas das mais importantes universidades do estado – abandonaram os exames próprios e aderiram integralmente à nota do Enem como critério único de seleção. No Paraná, o mesmo fez a Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) em 2010.

Segundo dados da Secretaria da Educação Superior do Ministério da Educação (MEC), naquele mesmo ano, 23 universidades federais aderiram ao Sisu, totalizando 38,5 mil vagas ofertadas pelo sistema em todo o país. Em 2011, o número de instituições federais inscritas subiu para 39 e as vagas chegaram a 62 mil. Na primeira edição de 2012, a progressão continuou, alcançando 42 universidades federais e 80,3 mil vagas – mais que o dobro ofertado no ano de lançamento do Sisu. No quadro geral, incluindo vagas de universidades estaduais e outros institutos, o sistema abriu 108.552 vagas.

Embora em várias cidades o vestibular mantenha sua relevância, algumas instituições como a Universidade Estadual de Maringá (UEM) e a Universidade Estadual de Londrina (UEL), o exame tradicional funciona paralelamente a um processo seletivo seriado – sistema no qual os alunos fazem uma prova ao término de cada ano do ensino médio e o que conta é o saldo final.

Sem legislação

Segundo o reitor da Universidade Positivo, José Pio Martins, organizar um vestibular nunca foi uma imposição às universidades, mas acabou tornando­se o padrão depois que as primeiras instituições públicas o adotaram e tiveram o modelo copiado por outras faculdades, tanto públicas como privadas. “Nenhuma legislação criou o vestibular. No passado poderiam ter adotado a entrevista ou a análise de currículo, mas optaram pela prova devido à praticidade”, explica.

O reitor conta que o modelo brasileiro é visto com estranheza na maior parte dos países desenvolvidos, onde a análise de currículo é o modelo dominante e a concorrência por vagas é bem menor do que a existente no Brasil. Para Martins, a forma de seleção ideal deveria ser feita dentro da faculdade, não antes. “É injusto um país impedir a entrada de alguém na universidade”, afirma, defendendo também maior rigor para conceder o diploma aos universitários.

Cursinhos deverão reinventar o modelo de ensino

Por que o vestibular tem tantos opositores? Segundo o professor Ângelo Ricardo de Souza, do Núcleo de Políticas Educacionais da Universidade Federal do Paraná (UFPR), além de ser excludente, o vestibular gera a cultura de preparação focada no conteúdo cobrado pela prova. “Especialmente as escolas privadas escolhem o que ensinar com base naquilo que pode elevar os índices de aprovação no vestibular. Não nas diretrizes do ensino médio”, diz.

Essa tendência seria o motivo da produção de macetes e táticas de memorização em sala de aula, que têm pouco a ver com a aquisição de competências necessárias a um aluno do ensino médio.

Para Souza, as novas políticas de acesso à universidade devem influenciar diretamente a forma de ensinar dessas escolas e, especialmente, dos cursos preparatórios. “O Sisu [Sistema Único de Seleção] foi uma facada nas costas dos cursinhos. Esse modelo de ensinar, se não se reinventar, está com os dias contados”, afirma.
Publicado em 27/02/2012
Fonte: Site Gazeta do Povo

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