Ensino Médio

O que eu desejo fazer com a minha vida? Esta é uma angústia que aflige os jovens brasileiros mesmo antes da conclusão do ensino médio. Aos 16, 17 anos eles têm a obrigatoriedade de escolher uma profissão, de começar a escrever o seu projeto de vida.

Mas, como escolher um curso com tão pouca experiência de vida, com tão pouca ou nenhuma informação a respeito do mundo do trabalho? Como lidar com a pressão familiar em que os pais, de forma direta ou indireta, manifestam seu apoio a determinados cursos em detrimento de outros? Com a influência de amigos, modismos, da própria mídia, dos professores, das experiências vividas durante a infância e adolescência? Como reconhecer seus gostos, interesses, habilidades e desejos em meio a tudo isto?

A geração adolescente, percebida como acomodada, consumista, individualista, não consegue responder com um pouco de maturidade a todas estas indagações ao optar por um curso superior.

Pesquisas demonstram que cerca de 40% dos estudantes universitários desistem do curso até o seu final, a maioria nos primeiros meses de aula. Este é o momento em que o jovem se depara com a questão: o sonho acabou ou foi adiado? Os traumas, grandes ou pequenos, podem então ocasionar a falta de energia para novas tentativas.

A realidade desta fase demonstra o conflito vivido pelo estudante: “não é o que eu pensava”; “esse curso não tem a minha cara”. Bem ou mal escolhido, sugere-se que o curso deva ser levado pelo menos até o término do primeiro ano. Neste período, o aluno precisa procurar professores e profissionais da área e conversar muito a respeito da formação e campos de atuação. Poderá, assim, ter uma visão mais fidedigna e real, aprofundando conhecimentos além daquele que tem e imaginava ser o suficiente.

Neste momento, seja para confirmar, ou buscar uma nova opção de vida e de carreira, o jovem deverá reverter forças e atitudes no caminho do autoconhecimento.

O questionamento inevitável, que acompanha o ser humano desde a mais tenra idade – o que eu quero ser quando crescer? - deverá aflorar novamente na busca da realização de suas aspirações e de suas necessidades.

Existem inúmeros casos de jovens que, movidos pelo desespero e impaciência frente a primeira grande dificuldade de suas vidas (que é a entrada na faculdade e tudo o que dela decorre), abandonam o curso sem sequer se questionar. E, muitas vezes, voltam ao curso preparatório por mais um ano, acabando por descobrir, depois de algum tempo, e com mais maturidade, que aquele curso é o que realmente preenche o seu perfil pessoal.

Ou, então, acabam perambulando por vários cursos – “já que eu não sei para onde vou, qualquer caminho serve”. Esta busca por novos caminhos de vida será sempre saudável, desde que realizada de forma consciente. Isto significa que novas decisões deverão ser tomadas em bases mais concretas a respeito de si mesmo – quem sou eu? Quais são minhas habilidades, gostos, interesses, valores...? Quando esta etapa é ignorada, a sociedade se depara com jovens de 20, 21 anos desistindo do terceiro, quarto curso superior sem conseguir visualizar, optar e concretizar este início da longa caminhada da vida profissional. A autonomia e a responsabilidade que fazem parte de uma decisão madura não se desenvolveram de forma satisfatória.

Por esta razão, seja qual for a resposta ao inevitável questionamento, afirmar e reafirmar as intenções futuras, ou optar por novos caminhos, o desafio é grande. Sempre exigirá superação da dificuldade, crescimento e comprometimento com a sua missão neste mundo.

Não há nada mais nobre do que reconhecer este papel e desempenhá-lo com amor e dignidade na construção de um mundo mais justo e humano.

Como nos versos da poeta Helena Kolody, “Deus dá a cada um de nós uma estrela. Algumas pessoas fazem da estrela um sol. Outros nem conseguem vê-la.”

*Psicóloga. Especialista em Orientação Profissional. Pesquisadora na área de Orientação Vocacional e de Carreira. Coordena o Centro de Orientação Vocacional e Profissional. Autora e co-autora de livros na área da Orientação Profissional e de Carreira.

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